terça-feira, 6 de setembro de 2011

O perigo invisível na areia da praia.

O resultado de um estudo feito em quatro balneários catarinenses (Camboriú, Itape­­ma, Itajaí e Porto Belo)revela que a quantidade de coliformes fecais presentes na areia chega a ser três vezes maior que a do esgoto bruto! Publicado em 06/09/2011 Cíntia Junges, especial para a Gazeta do Povo

A proximidade da temporada de verão traz, todos os anos, a preocupação com a qualidade da água do mar, mas pouco ou nada se fala sobre as condições sanitárias da areia. O contato direto com o solo da praia representa uma séria ameaça de contaminação por micro-organismos patológicos. O resultado de um estudo feito em quatro balneários catarinenses (Camboriú, Itape­­ma, Itajaí e Porto Belo) dá bem a noção do risco: a quantidade de coliformes fecais na areia chega a ser três vezes maior que a do esgoto bruto.

“A proliferação de micro-organismos depende da disponibilidade de matéria orgânica presente na areia. Infelizmente, a falta de saneamento básico em muitas cidades litorâneas ainda é um dos principais motivos para a existência de orlas poluídas e contaminadas”, explica Jackson Fávero, dono de uma empresa de engenharia ambiental que analisou a qualidade da areia no litoral de Santa Catarina. Fávero diz ainda que lixo, restos de alimentos e fezes de cães e gatos contribuem para a contaminação da praia.

No litoral paranaense, não existem programas de controle de qualidade da areia, mas turistas e moradores têm noção dos riscos. Há 13 anos, quando se mudou para Guaratuba, a dona de casa Sil Noir, de 43 anos, sentiu os efeitos do contato com a areia suja e contaminada. Ela foi infectada pelo bicho geográfico, um parasita que se aloja nas camadas superficiais da pele, provocando coceira e erupções no local.

Desde então, Sil redobrou os cuidados quando vai à praia, principalmente com o filho Pedro, de 4 anos, que também já foi vítima de uma alergia causada pela areia. “É complicado porque criança não quer saber de usar chinelo ou de ficar sobre uma esteira. Não há como evitar que pés e mãos estejam em contato com a areia.”

Legislação

De acordo com Fávero, os seis meses de monitoramento nas praias catarinenses mostraram a urgência de uma legislação nacional específica para análise, diagnóstico e controle da contaminação da areia. A Resolução 274 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – que estabelece os critérios de balneabilidade da água – recomenda aos órgãos ambientais dos estados que avaliem também as condições da areia, mas isso não é feito sistematicamente.

Para a professora Hedda Elisabeth Kolm, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a análise é ainda mais importante nas praias onde as condições de balneabilidade não são boas, ou seja, em beira-mares cuja água está contaminada ou aquelas próximas a rios e gamboas. Para Hedda, que já orientou alguns trabalhos de análise da areia em pontos do litoral paranaense, a falta de uma normativa federal é um complicador. “Não existe legislação e, desta forma, não há como cobrar do poder público que garanta a limpeza e a qualidade da orla.”

Novos critérios

A Diretoria de Padrões Ambientais do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) deverá se reunir nas próximas semanas para rever os critérios de balneabilidade. Segundo a assessoria de imprensa, o monitoramento da areia também deverá fazer parte das discussões, mas ainda não há nenhuma perspectiva de que a análise da areia passe a integrar o relatório de balneabilidade na próxima temporada.
Fique atento
Segundo o infectologista Jaime Rocha, do laboratório Frischmann Aisengart, não somente as doenças de pele podem ser adquiridas pelo contato com a areia contaminada. Conheça outros riscos e as medidas preventivas recomendadas:

Perigo

- O risco maior é contrair parasitas transmitidos pelas fezes de cães e gatos, como a larva migrans cutânea, popularmente conhecida como bicho geográfico, e o toxocara, cuja doença é a toxocaríase ou síndrome da larva migrante.

Cuidados

- Use chinelos, evitando o contato direto com a areia;

- Opte por cadeiras, esteiras ou toalhas na areia;

- Não beba água e alimentos com as mãos sujas;

- Não leve animais domésticos à praia;

- Não deixe lixo na praia;

- Mantenha hábitos básicos de higiene





FOTO: Jonathan Camos/ Gazeta do Povo

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